Acuso, no raso crivo de tuas palavras,
O balbucio da morte das estéticas,
Sentenças desnutridas, esqueléticas,
Ásperas como as unhas que me cravas.
Ao recusar tuas intoleráveis larvas,
Resenho com essenciais princípios,
Muralhas que apartam municípios
Que separam a arte das emendas parvas.
Já o corrimento da tua digitália
Que promete ao poeta essa mortalha
E ao verso centenário impõe sepulcro,
Há de nutrir os teus tumores
Da lesa obsolecência, os dissabores
Diante do poema de manto pulcro.
Sexta de Palavras
Cássio Pantaleoni
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
segunda-feira, 23 de junho de 2014
segunda-feira, 9 de junho de 2014
O que há de comum nas diferenças
Estamos à borda da tão debatida Copa do Mundo de Futebol no Brasil.
Bem antes, as discussões acerca dos benefícios ou dos descabimentos desse evento diluíram um tanto dessa paixão legitimamente brasileira. Contudo, distantes das implicações políticas e mercadológicas, a Copa do Mundo, em sua essência mais primitiva, no assim denominado “velhos tempos do futebol”, visava a celebração das diferenças entre os povos, restringindo-as às habilidades desportivas de cada país. Algo bem mais saudável do que transformar a Copa em baluarte de intenções políticas.
Talvez o nosso olhar, agora, deva se deter nas essências, para não corrermos o risco de nos deixar impregnar por desvios que muito mais nos diminui, enquanto apreciadores dessa prática que nos fez conquistar tantos títulos internacionais – o futebol.
Convém, entretanto, demorar-se na questão das diferenças. Sobretudo naquela que é a diferença humana essencial: o olhar.
“Olhar” aqui refere a perspectiva, o modo de perceber, avaliar, pesar e julgar as coisas do mundo. Essencialmente, cada um de nós colabora com a sua perspectiva mais própria para conformar aquela área comum que constitui a nossa concepção coletiva de mundo.
No campo literário não é diferente. O bom escritor incrusta nas páginas o seu modo de ver uma história, concedendo espaço para que a perspectiva do leitor reinaugure a história ao seu modo. No entanto, a história escrita e a história lida estão unidas pelo que há de comum na diferença – a concepção coletiva de mundo.
Essa concepção coletiva de mundo não é senão o espaço concessório, o espaço que sobra ileso de toda e qualquer diferença perspectiva. Dito de modo mais simples – só há mundo quando estamos de alguma maneira "de acordo”.
Nesse acirramento político que ora se assoberba no país do futebol, onde o aquecimento das discussões se dá pela radicalização das perspectivas, creio que nós, escritores, temos uma função importante. Não somente o olhar diferente, mas o olhar para o que há de comum nas diferenças – a sociedade e seus anseios de justiça, de igualdade, de fraternidade, de liberdade, de ordem e progresso. E penso assim porque entendo os escritores como agentes de uma concessão que, em sua origem, promove o entendimento. Conceder espaço ao outro – ao leitor – é o que revigora uma história. E a história política de nosso país demonstra – é no espaço comum da democracia, nesse espaço liberto de perspectivas não radicais, que o exercício da liberdade está garantido. Só aí.
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