O que resulta no mundo digital são os modos dominantes do sistema, suas características mais comuns. A complexidade desse sistema de reprodução é ignorada pelos seus usuários. Aqueles que acessam a internet, que fornecem ou acessam dados e informações, estão submetidos às regras dominantes do mundo digital. Nas palavras do filósofo Miroslav Milovic: “Quem está se comunicando é o próprio sistema, não os seres humanos”.
Porém, quem se importa? Parodiando Luhman, para os internautas, os usuários do mundo digital, não importa serem emancipados, mas somente acessar a web – um sistema que funciona sem crítica alguma. Ao invés de nos liberar, o mundo digital nos escraviza. Esse é o autismo do ser humano atual. O diálogo aparente do mundo digital é apenas um monólogo: quem fala, quem determina o modo de dizer é o próprio sistema.
Por outras vias, não podemos perder de vista que o mundo digital é cria do ser humano. É mais um instrumento concebido para lidar com objetos como mundo, sociedade, vida, capital etc. Porém, como fica o ser do ser humano. Pelas reflexões de Heidegger, aprendemos que o ser não é um produto. Ele não possui a imponência de um objeto; ele é frágil, ele é o que sobra depois de tudo o mais. Ser é compreensão. Será que o mundo digital nos remeteu a alguma compreensão de ser?
Há os que dizem que nunca antes tivemos tanta consciência de nós mesmos. Essa aparente supremacia da consciência, em que cada um responde por si e testemunha, é fictícia, está minada pelas volições do Id freudiano, contaminada sobretudo pela sua própria superficialidade crítica. O mundo digital é apenas uma visão de verdade, uma miragem de um progresso que não se dá no mundo real, pois ele é apenas a conservação de certas relações de domínio.
Continuamos a mercê da interpretação da metáfora hegeliana. No mundo digital ainda habitam os senhores e os escravos. É preciso destituir-nos dessa concepção de mundo digital, abandonar essa tese da inclusão digital (que em última instância alude a inclusão em um “novo mundo”. Mundo digital não existe. O que há, depois de tudo e um pouco menos, é apenas uma “ferramenta digital” denominada internet. Se não soubermos usá-la com critério, estamos correndo o risco de perder o ser no mundo.
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