terça-feira, 9 de novembro de 2010

Orla

Encontraram em certos outonos aquela promessa que agora a brisa do mar reconquistava. O verão que fazia ferver as areias na beirada do mar anoitecia fresco, incrustando as constelações num devagarinhamento de quase não brilhar. Ela, menina de se-descobrindo, engolia o medo de se fazer notar tão frágil. Ele, de face luzeira, entornando os olhos sobre a lua, ditava em silêncio as palavras que lhe cabiam certas. Asas jovens, vacilantes, oferta entreaberta, leve, silenciosamente querente.

Preciso te contar, disse ela; tanto quanto ele. Primeiro eu, exigiu ela, tanto quanto ele queria exigir. Deixa contar antes, implorou ela; tanto quanto ele implorava.

Antes da circunstância, dois contos. Iguais. Tão simples que nem valia.

O beijo veio morno, molhado, pedido. Descobriram que meninos e meninas não podem fugir da natureza imperativa. A incomum ocasião que jamais seria qualquer descoberta senão a de que bonecas e bolas de gude sobrariam no passado das duas crianças que então se despediam.

No horizonte, as luas gêmeas dançaram para o espelho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário