sábado, 26 de setembro de 2009

Deu um branco

As palavras me deixaram.
Não digo que se foram simplesmente
Como se não mais me pertencessem,
Foi cansaço.
Mudo e vencido.
Sem mais o que dizer.
Soubesse como,
Tudo o que guardo nas gavetas,
Tudo o que escrevi
Tudo o que sei
E muito o mais o que não sei.

Deu um branco.
Assaltar a atenção distraída,
Que tanto convém aos tolos,
E depois?
A vulga valia,
O revestimento da utilidade prática,
Ter algo a dizer.
Lavrar no tempo um pensamento,
Uma opinião?

Deu um branco.
Que seja eu o tanto estúpido
Para escrever uma linha
De sentido profundo,
De retórica inédita,
De estilo inaudito.
De que serve?
Tantas letras?
Tantas palavras combinadas?
Tanta colagem de idéias?
“De que vale tudo isso se você não está aqui?”

Deu um branco.
Improviso.
Invento um argumento para a minha falta de argumento.
Implanto um fundamento
Nesse chão movediço.
Como um blog.
Não é tudo um blog?
Repetimos as mesmas coisas?
Mendigamos leitores?
Um lugar ao sol?
Blog.
Que coisa mais obtusa!
Cabeça de Medusa.

Deu um branco.
Ausente as epifanias.
Perdemos a vergonha?
A verdade?
(Verdade...)
Que não temos nada de novo a dizer.
Tudo antes dito.
Em vaidades.
Esforço inútil –
Não há ineditismo nesse tecido carcomido
De ideias sem viço.
Isso.
Abandona.
Vai-te ao prático,
Pragmático,
Antipático,
Mundo plástrico.
Hesitas?
Pois eu também.

Deu um branco.
Conquisto o sexto parágrafo.
Desperdício!
Onde o sublime?
Onde os afrescos poéticos?
O concretismo dos nexos?
As inflexões da alma?
A maleabilidade da razão?
Talvez em outro parágrafo.
Talvez na próxima crônica.
Talvez na próxima vida –
“Vai trabalhar, vagabundo”!

Deu um branco.
Não me engano.
Tantos nessa lida,
Tantos versados e escolados,
Tantos azedos e açucarados,
Serelepes e desapressados,
Mamíferos e celenterados.
A inspiração?
Quando?
Como?
Cabeça de Jano.

Deu um branco.
Vou colorir com tua comiseração.

Enfim, só.

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