sábado, 18 de dezembro de 2010

Manjedoura

Contudo, os relógios, pela mania:
― “Falta pouco!”
E nem te reparo entre os de menos. E tu:
― “Perdi a hora por ti!”, de desespero.
― “Não que eu tenha esquecido...”.

A mesa encarnada, os enfeites, a prataria;
Os vaga-lumes de fios no canto.
E o espanto?

Sussurras ao meu ouvido:
― “Perdeste-me?”
Pois num apelo, eu replico:
―”Sei tão pouco de mim”

As vozes tomadas de assuntos,
E tu insistes no imaterial:
―”O espírito não se perde; nega-se. Não vês?”

Reviro o meu mundo, na pressa do tempo.
À meia-noite, há meia razão.

Decepcionada:
―”Por que cumprir o rito?”
Levanto, entre os outros e abandono:
Vou às ruas. Procuro o sentido.

Na alameda, o menino, a mulher e o homem:
Em desabrigo.
E eu: “Que fazem ali?”
― “Eles vivem. Ou sobre eles, vivem os outros”.

Sento-me. E mesmo perto, é grande a distância;
Eles desconfiam:
― “Tá bêbado, moço?”
Sorrio. Desvio os olhos:
― “Falta pouco...”

Na igreja, o sino demarca;
Meia-noite.
E no meu ouvido:
―”Agora é Natal, senhor. Agora é”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário