terça-feira, 12 de abril de 2011

Antes de voltar a dormir

Despertou antes que o relógio avisasse a manhã e descobriu-se. Na dobra do cobertor, o escorpião, preso, tentou a fuga, incógnito. Esmigalhou as baratas, no pé-pesado de quem arrasta a noite desdormida, e acotovelou-se entre os marcos da porta do banheiro. Ali, as aranhas se desfiavam, aprisionando as varejeiras, em frente ao espelho lascado, onde as mariposas se esqueciam do dia.


A unha encravada, entre as frieiras e os calos, trincadas de dedo em dedo, lhe doeu. Sentou-se, esgarçando as nádegas para melhor se esvair. A mão enfiada na boca procurou o fiapo de tomate que lhe coloria o dente, enquanto o regurgito azedou o ar. Deixou grudar nos fundilhos o que sobrava.

A arma, ainda sobre o criado mudo, engatilhada, reluzia.

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