Assim, de início, em devotado suicídio coletivo, elas conformam o halo translúcido. A rudeza do ar, diligentemente, separa uma a uma - gotas. Está sozinha agora, prisioeira do vetor da gravidade. Embaixo, qualquer cápide aguarda.
A menina colhe a primeira delas com a palma da mão; a segunda beija a testa, uma outra cai no solo cobiçoso. Depois chegam as outras tantas, meteoritos hidrogenados de oxigênio, espatifando-se contra as migalhas de ágatas, cascalhos e cristais de rocha, buscando abrigo nos sulcos dos arados, nos veios da terra. E a criança encolhe os olhinhos verdes, de boca aberta, língua de fora - gosto de chuva.
Da soleira da porta a mãe avisa:
- Sai desse aguaceiro, Dionísia!
Pisoteia o barro, descuidada de tudo, cabelos escorridos, vestido ensopado, encharcando meia e sapato, mãozinhas sobre a cabeça fingindo telhado. Da brincadeira até a casa, corre uns poucos metros, carregando uma liberdade que sorri.
A terra toda chia, os rios aligeirados: a gota solitária, enfim, reencontra suas irmãs - deslizam nas correntezas microscópicas do solo então saciado.
- Viu que chuva linda, mãe?
A mãe não vê. Perdeu o gosto pelos detalhes.
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