Há, em Sartre, uma posição interessante sobre a produção escrita: "Deve-se recomendar aos autores contemporâneos que libertem mensagens, isto é, que limitem voluntariamente seus escritos à expressão involuntária de suas almas (...) Que eles argumentem pois, que eles afirmem, que eles neguem, que eles refutem e que eles provem; mas a causa que defendem não deve ser senão o objetivo aparente de sua argumentação; o objetivo profundo é o de entregar-se sem o objetivo".Esse objetivo profundo de expor-se sem qualquer objetivo, referido por Sartre, é um encontro com a verdade da alma. É um descuido necessário, que doa à produção escrita o caráter de autenticidade,
o evento onde verdade e método se confundem.
Contudo, há muito em jogo quando alguém se expressa através da palavra escrita. O escritor inglês Aldous Huxley já fazia aviso: "Não se trata de uma questão de inteligência; certas pessoas muito inteligentes e originais não tem amor pelas palavras...".
Tomar a palavra impunemente, sem que esta rebente em um delírio febril de modelar um sentido vazado da dúvida, é obliterar a arte, a cultura, a consciência histórica da visão de homem, mundo e sociedade, de como chegamos até aqui. Pode-se fazer escolha entre a justificação do escritor romano Alberto Moravia - "Eu escrevo para saber por que escrevo" - ou a sinceridade de Paulo Francis - "Escrevo para ter fama, glória e amor" -; porém, seja qual for a escolha o verbo não deve ser domado.

Nenhum comentário:
Postar um comentário